terça-feira, 20 de setembro de 2016

O QUE ESTÁ POR TRÁS DO DISCURSO DE LULA?

       

        A midiática exposição, que concedeu a Curitiba a nova denominação de República do Powerpoint é típica da tecnocracia pseudocientífica e autoritária que se instalou na Capital do Paraná, supostamente, para combater os casos de corrupção no país. A ansiedade para denunciar e prender Lula, fez com que cometessem um erro grave e histórico, justamente contra aquele que é o mais qualificado político brasileiro na prática do estelionato eleitoral.

      

        Numa visível demonstração de preferência pela direita tradicional (em especial aos tucanos, contra os quais existem inúmeras provas) e um ódio insano contra os movimentos sociais dos quais Lula surgiu, tentaram resolver dois problemas de uma vez só: desmoralizar e criminalizar as lideranças dos movimentos sociais através do simbolismo da condenação de Lula e eliminar o candidato frentepopulista das eleições presidenciais na sucessão do impostor Temer.


       Porém, Lula jamais perderá a manha de experiente raposa da tradicional política brasileira. Aproveitou a simplória tentativa do empolgado e inepto procurador e sua "convicção sem provas" e, sabendo que obteria bônus político com tamanha idiotice do "servidor público concursado" que o acusou sem "provas cabais", mandou um recado subliminar, mas bastante explícito, para a direita e o empresariado com quem sempre governou e para quem sempre governou:

       

         - Não estou nem aí para a estabilidade no serviço público e muito menos para concursos, concursados e concurseiros. Estou pronto para fazer o AJUSTE FISCAL, embora seja necessário retirar direitos da classe trabalhadora.       


         Óbvio que Lula não pronunciou literalmente a frase acima. Da mesma forma que o procurador também não resumiu, numa frase única, a sua grande gafe da "convicção sem provas". 


          Lula desenvolveu uma notável habilidade de manipulação do seu eleitorado, em especial, durante os oito anos de colaboracionismo em que governou junto com a direita. Ele sabe que a imensa maioria dos ocupantes dos cargos mais bem remunerados, ocupados via concurso, pertence a um segmento que foi às ruas exigir o impeachment de Dilma. Ou seja, Lula não está preocupado com servidores públicos "chateados" com a sua fala, até porque o momento ainda não é de eleições presidenciais e seus milhões de "assessores" darão conta de combater este "efeito colateral". Também sabe que as palavras de ordem FORA TEMER e Diretas, já, ou ainda Eleições gerais, já estão se ampliando rapidamente. Portanto, Lula está sintonizado com a conjuntura nacional e pretende tirar o maior proveito político da situação. 


A quem Lula dirigiu a ideia central de sua fala?


          No vídeo, que viralizou nas redes sociais, Lula inicia falando sobre o "Analfabetismo Político de quem não sabe o que é um governo de coalizão". Neste momento ele demonstra a que se destina sua fala e a intenção de dar um recado a quem garante a chamada "governabilidade". 


         Diante das manifestações crescentes em todo o país, Lula avalia que a materialização do FORA TEMER passaria, inevitavelmente, pelos corruptos parlamentares que protagonizaram o Golpe Institucional que destituiu o governo de frente popular de Dilma(PT). Seja através de emenda constitucional para antecipação das eleições, através da proposta de impeachment de Temer ou da ação do PSDB que tramita no STF para cassar a chapa Dilma-Temer, ou ainda, das eleições em 2018, Lula sabe que precisa recompor uma "coalizão fisiológica" com a corja que habita o Congresso nacional, para se qualificar junto à burguesia e retornar ao poder em qualquer um dos cenários. No caso da cassação da chapa, haveria, inclusive, uma eleição indireta em 2017 para que os congressistas elejam o novo Presidente.

 

        Dessa forma, Lula enviou duas mensagens importantes, em um estilo oposto ao que aprimorou quando discursava para a classe trabalhadora e governava para a grande burguesia: afagou seus colegas da politicalha tupiniquim, chamando-os coerentemente de "honestos ladrões"e sinalizou para a burguesia que estava disponível novamente para retirar nossos direitos, caso a burguesia considere que a estabilidade político econômica e a manutenção da taxa de exploração da mais valia da classe trabalhadora brasileira necessite mais uma vez dos seus serviços em parceria com a direita, embora esta prefira  governar sozinha. Ou seja, a exemplo de Dilma, Lula vem sempre mantendo uma dócil submissão aos interesses dos mentores do golpe. 


        A resposta da burguesia à subserviência do seu capacho foi imediata: Lula agora é réu na seletiva Operação Lava Jato. Não conseguiu muita coisa com a sua bajulação colaboracionista e, de quebra, Moro ainda "justifica", de forma explícita, sua "imparcialidade" em acatar a denúncia: "Certamente, tais elementos probatórios são questionáveis, mas, nessa fase preliminar, não se exige conclusão quanto à presença da responsabilidade criminal, mas apenas justa causa."



                 

           O governo de Frente Popular foi destituído para dar lugar ao  governo burguês típico de Temer, na intenção de acelerar e aprofundar os ataques contra os direitos da classe trabalhadora. Lula, Dilma e o PT sempre carregarão consigo essa responsabilidade, por conta da relação promíscua que sempre mantiveram com a direita no poder. Porém, o estelionato eleitoral, materializado em 13 anos de governo e a traição de classe expressa no colaboracionismo com a direita, que viabilizou o golpe, não nos autoriza a comemorar a investigação seletiva de Lula, por parte do fantoche Moro. O propósito é criminalizar o lado mais frágil da Frente Popular e isentar a direita com quem Lula e o PT se prostituíram.


          Sob o prisma da luta de classes, seria um sectarismo inaceitável a nossa omissão diante do "castigo" seletivo aplicado a Lula, que é um alvo preferencial por vários motivos, dentre os quais o de simbolizar a criminalização dos movimentos sociais organizados de onde ele surgiu para a vida pública. Lula não nos representa e muito menos o fantoche Moro ou qualquer outro membro da institucionalidade burguesa que defenda o processo arbitrário em curso no Brasil.




Intensificar o FORA TEMER e denunciar as traições da Direção do PT.


        Precisamos mudar imediatamente o foco do debate, que gira em torno da perseguição/vitimização de Lula e intensificar a Campanha FORA TEMER de tal maneira que tanto o Governo de plantão, da direita tradicional, quanto os colaboracionistas que pretendem retornar ao poder, percebam que não aceitaremos a retirada de direitos que estão presentes em mais de 50 projetos que tramitam no Congresso Nacional.  


     Necessitamos, urgentemente, organizar a esquerda socialista brasileira numa Frente que atue, onde for possível, na acumulação de forças das eleições municipais e, principalmente, nas manifestações contra os ataques disfarçados de reformas trabalhista, sindical, previdenciária e o famigerado AJUSTE FISCAL, que retiram direitos históricos conquistados nas lutas da classe trabalhadora.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Veja também:

II Marcha da Periferia de Teresina

Coluna da Organização Pró-Ruptura Socialista na II Marcha da Periferia de Teresina (14/12/2018) Com a proposta de denunciar o modo c...