quinta-feira, 1 de abril de 2021

Para que serve a Ditadura Militar? As farsas armadas pela Burguesia e a lógica necroliberal.



No Brasil de 2021, arrasado pela Pandemia da COVID-19, persiste uma inquietação a respeito de intenções ainda mais autoritárias do governo genocida de Bolsonaro e Mourão: estaria sendo gestado um fechamento do regime com uma ruptura institucional completa, através da imposição bélica das Forças Armadas? 

Os militares no poder estariam se articulando para um autogolpe, concentrando ainda mais poder nas mãos dos neofascistas e seus asseclas? Um período de Ditadura Militar estaria nos planos da grande Burguesia para o Brasil, a exemplo do que ocorreu com o golpe de estado de 1964? 

Há 57 anos atrás, mais precisamente na madrugada do dia 31 de março para 1º de abril de 1964, o General Olímpio Mourão Filho, que exercia o comando da 4ª Região Militar e da 4ª Divisão de Infantaria do I Exército, sediados em Juiz de Fora (MG), deu início ao movimento de tropas que afastou da presidência, João GoulartRibeiro da Costa era o presidente do Supremo Tribunal Federal e estava no Congresso quando da manobra para tirar o presidente do cargo e de lá, seguiu para o Palácio do Planalto para a posse de Ranieri Mazzilli, então presidente da Câmara. 

Mazzili ficou apenas 13 dias como presidente da república, após o que entregou o cargo ao Marechal Humberto de Alencar Castello Branco, com seus abomináveis Atos institucionais, que eram decretos e normas que davam plenos poderes aos militares  a permanência no poder, muito utilizados durante a Ditadura Militar.

Olímpio Mourão era o chefe do serviço secreto da Ação Integralista Brasileira em 1937 quando redigiu o Plano Cohen, documento falsamente atribuído à Internacional Comunista (Komintern), sobre uma suposta estratégia de tomada do poder pelos comunistas no Brasil. Esse documento foi o principal pretexto principal por Getúlio Vargas para golpear a democracia e implantar a ditadura do Estado Novo. Após o golpe empresarial-militar de 1964, o general foi nomeado Ministro do Supremo Tribunal Militar, em setembro do mesmo ano.

O Golpe de estado de 1º de abril de 1964, que usurpou o poder do Governo eleito de Jango, pela força das armas, foi apoiado pelas elites civis, militares, religiosas e, principalmente pelo jornal O Globo, com grande poder midiático à época. Reforçado pelos interesses geopolíticos dos Estados Unidos da América, foi apoiado por grandes proprietários rurais, a burguesia industrial paulista, grande parte das classes médias urbanas e a ala conservadora e anticomunista, majoritário na Igreja Católica e promoveu a Marcha da Família com Deus pela Liberdade em 19 de março de 1964. 

O chamado golpe empresarial-militar deu início a um longo período de 21 anos tenebrosos e vergonhosos para a história do país: falsificações, torturas, censura, sequestros, exílio, extermínios, desaparecimentos, corpos desfigurados ou incinerados e perseguições a todos aqueles que lutassem pelo restabelecimento da verdade ou de qualquer direito ou liberdade democrática.  

O Golpe de 64 se fez necessário para consolidar os interesses do capital monopolista nacional e internacional. A coligação das forças conservadoras com os militares se deu para barrar a ampliação do regime democrático. No entanto, embora todos os setores da burguesia sempre tenham tido vantagens, alguns setores tiveram vantagens maiores que os outros, gerando posicionamentos contrários à ditadura também dentro da alta burguesia.

Além das atrocidades praticadas pelo regime em 21 anos de ditadura e mais alguns anos de transição democrática, a corrupção desenfreada (violentamente camuflada pela censura aos meios de comunicação) e o endividamento externo, praticamente arruinaram o Brasil, além de catapultar a histórica dependência a organismos financeiros internacionais, concentrando mais ainda a riqueza nas mãos da alta burguesia, gerando um clima de insatisfação nos segmentos menos privilegiados. Mesmo com a repressão policial, militar e política as manifestações foram crescendo de maneira espontânea, embora sem nunca terem chegado a um nível de organização que se aproximasse de uma rebelião estratégica revolucionária.

Como dizia Florestan Fernandes, "os militares sempre foram a mão armada da burguesia e a burguesia a mão desarmada dos militares. Essas mãos se tocam e uma sempre vai lavar a outra". Dessa forma, os militares perceberam a ruína do país e os estratos burgueses passaram a atuar no sentido de facilitar o DESENGAJAMENTO MILITAR, de maneira progressiva e sem choque com as Forças Armadas. 

A democracia passou a se tornar necessária, mas apenas para garantir o livre trânsito do capital. Então, a transição teria que ser controlada. Os partidos foram criados para a manutenção da ordem. Quando se manifestavam contra a ordem vigente, eram impedidos de assumir a identidade real, devido a manipulações impostas pela legislação. Mas isso não impediu que as forças vivas da sociedade eclodissem. Milhões de pessoas foram as ruas, pois não se contentavam em se enclausurar sob tanta repressão e atrocidades que não puderam ser acobertadas.

Os militares sabiam do desastre que foi o regime militar, mas tinham receio que a gigantesca corrupção do período e o país arruinado, colocassem a estabilidade em risco no caso de eleições livres, como exigia a Campanha DIRETAS JÁ, que levava milhões de manifestantes às ruas! A ampliação das forças que antagonizavam a ditadura poderia levar a uma radicalização sob a qual não teriam controle. Os militares programaram, então, junto com os principais setores da burguesia (que entenderam o temor) o processo de defesa do Colégio Eleitoral em 1984.   

Em 2016, o Supremo Tribunal Federal protagonizaria mais uma vez a consolidação de um processo político de interesse de setores da alta burguesia e dos grupos conservadores da sociedade. A cirúrgica intervenção que culminou com a deposição da  Presidenta eleita Dilma Roussef, alçou ao poder o vice Michel Temer, através de uma ruptura democrática viabilizada por um Golpe Institucional/Parlamentar. Temer, plenamente sintonizado com os interesses da burguesia imperialista, assumiu disciplinadamente a tarefa desempenhada por Raniere Mazilli em 1964 e passou o bastão a Bolsonaro para dar continuidade à defesa dos interesses do capital nacional e internacional. Portanto, com as diferenças de cada contexto histórico, os conspiradores de 1964 foram os mesmos conspiradores de 1984, que foram os mesmos conspiradores de 2016.  

Desta vez, porém, a passagem dos militares ao poder central foi "sacramentada nas urnas" através de uma campanha muito bem planejada, tendo como mote um suposto combate à corrupção (tendo como alvo prioritário a corrupção do Partido dos Trabalhadores) e uma eficiente campanha de mentiras (fake news) propagadas nas redes sociais. 

O governo neofascista de milicianos e militares corruptos vem se desgastando cada vez mais, seja pelos escândalos de corrupção envolvendo todos os membros da família Bolsonaro, as investigações sobre a execução sumária de Marielle Franco e Anderson Silva mas, principalmente, pela estratégia institucional de propagação do coronavírus, como implementação explícita de uma necropolítica de governo.

O holocausto pandêmico, provocado pelo NECROLIBERALISMO de Bolsonaro, Mourão e Paulo Guedes seria motivo suficiente para mover as forças vivas da sociedade e destituir o governo neofascista. A própria pandemia, no entanto, vem sendo um empecilho à organização de grandes mobilizações. O descontentamento de setores da alta burguesia, seria ingrediente necessário na receita utilizada para destituir governos da frágil democracia brasileira, mas a "mão armada da burguesia" tem  6.157 militares, ativos e na reserva, ocupando cargos civis no governo, segundo o TCU. 

Enquanto isso, a burguesia percebe que a necropolítica colocou a Pandemia fora de controle e começa a atingir contingentes populacionais mais jovens, afetando a produção e os lucros. O colapso do sistema de saúde público e privado passa a colocar em risco familiares de membros da alta burguesia. Para isso, acionaram imediatamente seus serviçais do Congresso nacional para permitir a compra de vacinas pelas empresas, com apoio de Paulo Guedes, agudizando mais ainda a barbárie, onde o poder econômico decide quem será vacinado.

As mudanças radicais e cruéis que estão sendo realizadas na Constituição federal, sob a tutela do governo neofascista, retiram direitos históricos e sagrados da classe trabalhadora e favorecem aos grandes empresários. Porém, há menos de 20 meses das eleições presidenciais e com a popularidade em queda vertiginosa, a hipótese do autogolpe se torna a principal alternativa de permanência de Bolsonaro no poder após 2022. Os militares, os setores conservadores, a alta burguesia, o imperialismo, ou seja, os conspiradores de 1964, 1984 e 2016 estariam dispostos ao desgaste do autogolpe e manter o neofacista o poder?  

As farsas armadas pelos estrategistas do governo tentam desviar o foco e passar a ideia de que setores das forças armadas estariam contra o autogolpe, para fugir à responsabilidade da nefasta e concreta possibilidade de ultrapassarmos meio milhão de mortos por COVID-19 até agosto de 2021. A deposição de Bolsonaro seria a principal medida sanitária para enfrentar a Pandemia e diminuir exponencialmente o número de vítimas e a vacina poderia acelerar esse processo, por isso vem a conta-gotas. O massacre que provoca quase 4 mil mortes diárias de brasileiros é responsabilidade direta dos militares que ocupam cargos em número recorde no governo negacionista. As Forças Armadas sabem disso. 

Estamos vivemos na Ditadura da Morte Anunciada, onde a vida perde valor a cada minuto que passa. Não existe base social nem condições objetivas para uma ditadura militar gestada sob as conspirações tradicionais e a Forças armadas buscam encontrar uma saída honrosa do governo genocida e neofascista de Bolsonaro. Porém, o golpe de estado estará sempre na pauta até que Bolsonaro retorne aos esgotos imundos de onde surgiu e seja fechado na lata de lixo da história que o produziu como escória da política e da humanidade. A história cobra a conta do período vergonhoso da Ditadura Militar e cobrará as responsabilidades das mortes geometricamente multiplicadas pelo governo neofascista de milicianos e militares corruptos na pandemia do coronavirus.

ABAIXO O GOVERNO NECROLIBERAL DE MOURÃO, GUEDES E BOLSONARO!   

MUTIRÃO INTERNACIONAL PARA VACINAR TODA A POPULAÇÃO BRASILEIRA!

CONSTRUÇÃO DA GREVE GERAL NACIONAL SANITÁRIA POR 30 DIAS, EM DEFESA DA VIDA!

MILITARES NOS QUARTÉIS, CORRUPTOS E GENOCIDAS NA CADEIA!

EM DEFESA DOS DIREITOS E LIBERDADES DEMOCRÁTICAS DA CLASSE TRABALHADORA E DO POVO POBRE!

DITADURA NUNCA   MAIS!

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